Izabel Cristina Ferreira Itikawa, natural de Boa Vista (RR), é formada em Administração de Empresas e tem mais de 30 anos de atuação à frente da Itikawa Indústria e Comércio Ltda. Casada com Nelson Massami Itikawa e mãe de três filhos, ocupa hoje a presidência da Federação das Indústrias do Estado de Roraima (FIER), do Conselho Regional do SENAI e do SINDIGRAOS. Também é diretora regional do SESI e do IEL, diretora na Confederação Nacional da Indústria (CNI), presidente da Associação Pró-Amazônia e do Conselho de Ética da CNI, além de integrar o Fórum Nacional da Mulher Empreendedora. Atua ainda como vice-presidente do Conselho Deliberativo do Sebrae/RR e é embaixadora do projeto “Amazônia que eu quero”, da Fundação Rede Amazônica. Sua gestão tem sido marcada por avanços na qualificação profissional, inovação tecnológica, inclusão social e fortalecimento da indústria roraimense.
Avanço industrial e geração de empregos

Entre janeiro e outubro de 2024, Roraima registrou mais de US$ 221 milhões em exportações — o terceiro melhor resultado da série histórica. O setor industrial do estado cresceu 10,34% na geração de empregos formais em 2024, quase o dobro da média nacional. A construção civil e a indústria de transformação lideraram essa expansão. A taxa de desocupação caiu para 5,1% no segundo trimestre de 2023, o menor índice desde 2012.

Entrevista: transformação como propósito

Ao ser questionada sobre o início de sua carreira, Izabel respondeu que começou no setor empresarial com “compromisso e foco no desenvolvimento da empresa e das pessoas ao redor”. Disse que sua motivação sempre foi “contribuir com algo maior: transformar a realidade e fortalecer o papel da mulher no mundo dos negócios”.
Assumir a presidência da FIER foi, segundo ela, um ponto de virada. “Representar o setor industrial num estado com tantos desafios exigiu coragem e reafirmou meu compromisso com o desenvolvimento local”, afirma. Hoje, o que mais a motiva é o impacto direto de seu trabalho. “Ver a indústria transformando comunidades, qualificando jovens, fortalecendo empresas e movimentando a economia é a maior motivação para seguir firme nessa missão.”

Educação, inovação e inclusão
Por meio do SENAI, Izabel ampliou a oferta de cursos técnicos e consultorias que promovem o desenvolvimento da indústria. Um projeto de destaque é o realizado com a Operação Acolhida, que capacita imigrantes e promove sua inserção no mercado local. Já no SESI, intensificou ações de saúde e segurança no trabalho, educação e promoção da saúde, fomentando a melhoria da qualidade de vida dos trabalhadores industriários e seus dependentes. E pelo IEL, incentivou a inovação e a aproximação entre estudantes e o setor produtivo.

Izabel destaca também o foco na inclusão feminina: “Estamos cada vez mais comprometidos com a equidade de gênero. A presença feminina vem crescendo exponencialmente setores aqui em Roraima.” O projeto “Ela Faz Indústria”, da FIER com o Sebrae e a CNI, é exemplo disso. “A iniciativa fortalece micro e pequenas indústrias lideradas por mulheres, com formação em gestão, vendas, inovação e produtividade”, explica.
Segundo a PNAD Contínua do IBGE (4º trimestre de 2023), Roraima conta com mais de 22 mil mulheres empreendedoras, o que representa 28,32% dos negócios locais. A maioria atua por conta própria, sem vínculo empregatício — 92,33% — e apenas 3,45% têm rendimento superior a cinco salários mínimos. Mais da metade vive com até um salário mínimo. Projetos de capacitação e estímulo à formalização são, portanto, essenciais para reverter esse cenário.

Histórias de impacto
Um exemplo do alcance das ações promovidas sob a gestão de Izabel é o de Maria Eduarda Silva, 28 anos, ex-aluna do SENAI. Após concluir um curso de confeitaria, ela fundou a Doce Encanto, um pequeno negócio que hoje emprega duas mulheres e atende a encomendas em Boa Vista. “O apoio que recebi foi essencial para começar com segurança. Quero crescer e inspirar outras mulheres”, afirmou. O caso ilustra como a qualificação profissional pode abrir portas e gerar renda, especialmente para empreendedoras iniciantes.
Outro exemplo é Maryane Bonfim de Sousa, fundadora da Mary Produtos Saudáveis. A ideia do negócio surgiu após um diagnóstico de lúpus, mais tarde corrigido para artrite reumatoide. A partir dessa experiência, ela adotou uma alimentação anti-inflamatória e percebeu a falta de opções desse tipo em Roraima. Começou produzindo para consumo próprio, depois passou a vender e viu que a iniciativa tinha potencial de crescimento. “Foi o empreendedorismo que me escolheu”, afirma.

Com sede no bairro Canarinho, em Boa Vista, a empresa atua há quase três anos e conta com cinco colaboradores. Os produtos incluem brownies sem glúten e sem leite, pães, empadas, bolos com biomassa de banana verde e outros alimentos feitos com ingredientes naturais. Maryane acredita que o maior diferencial da marca está na conexão com os consumidores, pois ela mesma vive as restrições alimentares que busca atender. “Não vendo por vender. Conheço a dor, conheço a necessidade. Isso nos aproxima do cliente de forma real e autêntica.”

Participante do projeto Ela Faz Indústria, Maryane destaca a troca de experiências e o acolhimento mútuo entre empreendedoras como pontos altos da iniciativa. Ter acesso a mentores que entendem os desafios cotidianos foi, segundo ela, um fator enriquecedor.
Entre os principais desafios, ela menciona a dificuldade de encontrar insumos específicos no estado, o preconceito contra a alimentação saudável e a necessidade de aprender a delegar. “Sou muito centralizadora. Sair do operacional para focar na gestão ainda é um processo, mas entendo que é essencial para crescer.” Ela considera seu negócio inovador não apenas pelos produtos oferecidos, mas também pela postura de liderança colaborativa e empática. Identificada como perfil Planejador durante o curso da FIER, valoriza organização, planejamento e clareza nos processos.
Mesmo ainda não fazendo parte de redes de empreendedoras, Maryane acredita que seu exemplo pode inspirar outras mulheres a empreenderem com propósito. Sua trajetória mostra que é possível recomeçar mesmo diante de diagnósticos difíceis. “Quero que outras mulheres vejam que podem transformar suas dores em negócios com sentido e impacto.”
Os planos para o futuro incluem ampliar os canais de venda, diversificar a linha de produtos e seguir firmando o compromisso com saúde, sabor e inclusão. Como conselho, ela sugere não esperar pela perfeição antes de começar. “A verdade é que ninguém nunca está 100% pronto. É no caminho que a gente aprende. Sempre existe uma solução. Respira, confia e busca. Ela aparece.”
Além de projetos como o Ela Faz Indústria, outras iniciativas têm contribuído para o fortalecimento do empreendedorismo feminino em Roraima. Em eventos populares como o Boa Vista Junina, ações como a instalação de barracas para mulheres empreendedoras e o fornecimento de internet gratuita reforçam a importância do apoio institucional. Um exemplo recente é o incentivo promovido por Carol Dantas, detalhado nesta matéria do portal Roraima Press:
👉 Carol Dantas incentiva empreendedorismo no Boa Vista Junina com apoio a barraca de milho e internet gratuita
Liderança feminina e desafios
Izabel vê com otimismo o papel das mulheres na indústria: “As mulheres têm ocupado espaços estratégicos com competência, sensibilidade e firmeza. Quanto mais plural a liderança, mais sustentáveis as decisões.” Ela também reconhece que ainda há desafios: “É preciso quebrar barreiras culturais e incentivar políticas que promovam o equilíbrio de gênero.” Sobre suas inspirações, cita a mãe como exemplo de força e integridade e outras mulheres que marcaram sua trajetória por mostrarem que é possível ser “firme, justa e humana ao mesmo tempo”.

Futuro e legado

Reeleita para o mandato 2024–2028, Izabel quer consolidar uma indústria inovadora e conectada à sociedade. “Sonho com uma FIER cada vez mais próxima da sociedade e dos novos tempos.” Quando questionada sobre o legado que deseja deixar, ela responde: “Quero mostrar que é possível liderar com sensibilidade, firmeza e propósito. Que mulheres podem ocupar qualquer lugar e transformar realidades com coragem e competência.”

Mensagem final
Às jovens mulheres que pensam em seguir carreira na indústria ou no setor produtivo, Izabel deixa um conselho: “Acreditem em vocês. Busquem conhecimento e não aceitem limites impostos. O setor produtivo precisa da força, da visão e da sensibilidade feminina.” E se tivesse que resumir sua trajetória em uma só palavra? “Transformação”, conclui. “Porque tudo o que vivi até aqui teve como propósito transformar a realidade de outras pessoas também.”