Por Edilson Oliveira – Jornalista, filósofo e escritor
Na crônica filosófica “Uma viagem de trem para um mundo inteligível”, o autor Sebastião Pereira do Nascimento nos conduz por uma travessia densa e simbólica, em que um sujeito solitário decide abandonar o mundo das dores para embarcar numa jornada rumo ao que realmente importa: a essência da vida.
Narrado em tom introspectivo, o texto se afasta da lógica imediatista e barulhenta da contemporaneidade para propor uma pausa. Um trem, nesse caso, representa muito mais que um meio de transporte: é a metáfora para o deslocamento interior, o deslocamento ético e espiritual. É a travessia entre o mundo bruto, opressor e vazio, e o universo das ideias — onde moram os princípios, a razão e a contemplação, segundo a tradição platônica.
O personagem, mergulhado em angústia, se afasta da multidão e da aparente normalidade de uma sociedade adoecida. Abandona a bagagem, desiste das máscaras e decide seguir sem roteiro, mas com coragem. Essa atitude, embora poética, é profundamente política. Em um tempo de estímulos excessivos, ansiedade coletiva e ruído constante, fazer silêncio e buscar sentido já é um ato de resistência.
A crítica social aparece com força na metáfora do “coletivo de monstros” — vândalos, malfeitores, corruptos — que dominam o cenário do mundo sensível. Não se trata de ficção: é um espelho de nossas ruas, telas e gabinetes. Ao contrário, o mundo inteligível proposto por Nascimento é uma utopia filosófica possível, acessível a quem ousa pensar, repensar e transformar.
Mas o ponto mais forte do texto talvez esteja em sua mensagem humanista. O sujeito, ao fim da viagem, entende que não basta existir: é preciso ser lúcido, acolhedor, sensível. É preciso amar para ser amado, e compreender que o convívio com o outro é, antes de tudo, um estado de espírito — capaz de renovar as emoções e restaurar a esperança.
Assim, Sebastião Pereira do Nascimento nos oferece um convite: quando tudo parecer sem saída, que saibamos reconhecer a hora de partir — não como quem foge, mas como quem decide viver de forma plena. A estação está próxima. O trem parte pontualmente. Cabe a nós decidirmos se vamos embarcar.