A cidade de Mucajaí, no interior de Roraima, amanheceu dividida nos últimos dias. De um lado, a comoção popular diante da morte de Daniel Dias da Silva, jovem encontrado sem vida em circunstâncias ainda nebulosas. Do outro, a pressão crescente sobre a Polícia Militar, após a confirmação de que dois agentes estão envolvidos diretamente no caso — um deles, ainda em atividade.
O episódio, ocorrido em abril deste ano, gerou uma onda de desconfiança e indignação entre os moradores. A apuração conduzida pela Promotoria de Justiça da Comarca de Mucajaí aponta para um crime grave: homicídio qualificado com possível ocultação de cadáver.
MP pede prisão domiciliar para segundo policial
No último dia 5 de maio, o Ministério Público de Roraima (MPRR) recorreu ao Tribunal de Justiça do Estado solicitando a prisão domiciliar do policial militar J.S.N., um dos envolvidos no caso. O objetivo, segundo o promotor de Justiça Ulisses Moroni, é evitar qualquer interferência na investigação, uma vez que o soldado continua ativo no serviço da corporação.
> “A prisão do agente é imprescindível. Há provas da existência do crime, indícios de autoria, e a medida visa garantir a ordem pública e a continuidade da persecução penal”, afirmou o promotor ao Roraima Press.
A solicitação ocorre poucos dias após a revogação da prisão preventiva de M.B.C., sargento da PM também envolvido no caso. A Promotoria já sinalizou que também irá solicitar sua prisão domiciliar dentro do prazo legal.
Repercussão abala imagem da segurança pública local
Na pequena cidade de pouco mais de 17 mil habitantes, a repercussão foi imediata. Familiares de Daniel protestaram nas redes sociais e nas ruas, exigindo justiça e transparência no processo.
“Meu filho não volta mais, mas queremos respostas. Queremos que eles paguem pelo que fizeram”, disse a mãe do jovem, em entrevista à nossa reportagem.
Organizações de direitos humanos e representantes da sociedade civil também manifestaram preocupação com a possível impunidade e com a permanência de um dos investigados em atividade.
Contexto: histórico de denúncias e crise de confiança
Embora o comando da Polícia Militar de Roraima ainda não tenha se manifestado oficialmente sobre o afastamento de J.S.N., fontes internas confirmam que o caso gerou desconforto na tropa.
O município já foi palco de outras denúncias envolvendo ações policiais questionáveis, o que contribui para a crise de confiança da população.
Segundo levantamento do Roraima Press, Mucajaí registrou ao menos cinco representações formais contra abusos de autoridade cometidos por agentes de segurança nos últimos dois anos. Nenhuma delas resultou em condenações.
E agora?
O Tribunal de Justiça de Roraima deve julgar nos próximos dias o pedido de prisão domiciliar do soldado J.S.N. Até lá, ele continua exercendo suas funções na corporação, mesmo sob a acusação de um dos crimes mais graves do Código Penal.
Enquanto isso, a cidade segue de luto e alerta. A cada nova atualização do caso, cresce o clamor por justiça — e por uma polícia que proteja, e não tema sua própria sombra