No coração do cinema independente de Roraima, “O Chocalheiro” se destaca como um exemplo vívido de como arte, cultura e identidade podem caminhar juntas mesmo em contextos adversos. Produzido por talentos locais, o curta-metragem é mais que uma realização audiovisual é um manifesto artístico que questiona, emociona e valoriza o que é nosso.
A obra mergulha na tradição oral, nas lendas amazônicas e nas relações humanas com o desconhecido. Mas é na sua essência simbólica que o filme encontra força: o chocalheiro, figura mítica e temida, nunca se revela por completo e talvez por isso mesmo seja tão poderoso. A metáfora é clara: nossos medos e mitos são tão reais quanto a memória que os mantém vivos.
Felipe Medeiros, jornalista e colaborador do projeto, sintetiza um sentimento comum a muitos artistas e comunicadores da região: “A crítica roraimense dá muito valor às coisas de fora… Primeiro é preciso valorizar as coisas da gente para gostar das coisas de fora.” A frase é contundente. Traduz o desafio persistente enfrentado pelas produções independentes em Roraima, que, mesmo carregadas de originalidade e profundidade, ainda esbarram na indiferença de um público acostumado a buscar referências externas.
Produções como “O Chocalheiro” mostram que é possível e necessário olhar para dentro. Que é urgente reconhecer o valor do que se cria com poucos recursos, mas com imensa criatividade. Que é preciso construir espaços, apoios e políticas que permitam ao cinema local florescer.
O cinema independente em Roraima resiste. Cria. Incomoda. E isso é o que o torna essencial. Que “O Chocalheiro” inspire outras narrativas e outros criadores. Que ele seja lembrado não só por sua estética, mas por tudo o que representa: uma Roraima que sonha, conta histórias e exige ser ouvida.