Durante anos considerado o “fim da linha” no mapa do Brasil, Roraima está surpreendendo o país ao emergir como uma potência econômica no extremo Norte. Isolado por sua geografia e negligenciado por políticas nacionais, o Estado está vencendo as barreiras históricas e desafiando até mesmo seus vizinhos mais estruturados — como o Amazonas.
Com apenas 717 mil habitantes e acesso rodoviário limitado pela BR-174, Roraima sofreu os impactos do colapso venezuelano, que despejou milhares de imigrantes sobre sua capital. Enfrentou ainda o boicote das companhias aéreas, que tornaram Boa Vista uma cidade ainda mais isolada. Mas a resiliência virou marca registrada do povo roraimense.
O que se vê hoje é um cenário completamente diferente: colheitadeiras modernas, silos surgindo em ritmo acelerado e filas de carretas bitrem cruzando as estradas rumo aos portos do Amazonas. Tudo para escoar uma produção agrícola que mais que dobrou em apenas três anos.
Entre 2021 e 2024, a produção de soja saltou de 226 mil toneladas para 420 mil toneladas. E a expectativa é que, nos próximos anos, esse número ultrapasse a marca de 1 milhão de toneladas. A diferença? Roraima planta em campos naturais, sem necessidade de desmatamento massivo — uma vantagem ambiental e logística que poucos Estados da Amazônia Legal possuem.
Enquanto isso, o Amazonas, acostumado a depender da Zona Franca de Manaus, assiste ao movimento econômico passar pelas suas estradas. A dependência de um modelo industrial em declínio contrasta com o dinamismo do agronegócio roraimense. A ZFM, presa a uma lógica de incentivos e produtos defasados, como rádios e DVDs, enfrenta a ameaça da obsolescência diante da revolução digital.
> “O que era visto como fraqueza, Roraima transformou em estratégia. Isolamento virou independência, e adversidade virou força”, avalia um economista da UFRR.
Boa Vista hoje consome mais de 80% da energia gerada a gás natural no Amazonas, produzida pela Eneva, em Silves e Itapiranga. A integração energética e econômica mostra que, mesmo geograficamente distante, Roraima está mais conectado ao futuro do que muitos imaginavam.
Enquanto vizinhos olham pelo retrovisor, Roraima pisa no acelerador. O pequeno Estado que ninguém via está agora no centro do debate sobre desenvolvimento sustentável e transformação regional.